quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O Clube Dumas - Capítulo VI



VI.       Sobre apócrifos e infiltrados

Azar? Permita-me rir, por Deus. Essa é uma
Explicação que só satisfaz aos imbecis.
(M. Zevaco. Os Pardaillans)
CENIZA HNOS.
ENCADERNAÇÃO
E RESTAURAÇÃO DE LIVROS.

        A moldura de madeira pendurava-se de uma janela com vidros empoeirados e opacos. Era um rótulo riscado, cheio de rachaduras, descoloridos pelo tempo e a umidade. A oficina dos irmãos Ceniza estava no mezanino de um edifício antigo de quatro pisos, apoiado em cima, em uma rua sombria da velha Madrid.
        Lucas Corso chamou duas vezes sem obter resposta. Olhou o relógio e, encostado na parede, se dispôs a esperar. Conhecia bem os costumes de Pedro e Pablo Ceniza; nesse momento se encontravam a um par de ruas de distância, junto da vitrina de mármore do bar La Taurina, bebendo meio litro de vinho como café da manhã enquanto discutiam sobre livros e touradas. Solteiros, bêbados, amuados e inseparáveis.
        Vi-os chegar dez minutos depois, um do lado do outro, com os macacões cinzas que flutuava como mortalhas sobre seus ossos magros; encurvados por toda uma vida sobre as impressoras e ferros de estampar, folhas de costura e dourando talifetes. Nenhum dos dois havia completado cinquenta, mas era fácil atribuir-lhes dez anos a mais ao notar em suas bochechas afundadas, as mãos e olhos gastados pelo minuciosos trabalho artesão, a pele descolorida como se o pergaminho com que trabalhavam lhes houvesse transmitido uma qualidade pálida e fria. A semelhança física dos irmãos era impressionante: o mesmo nariz grande, orelhas idênticas pregadas no couro cabeludo ralo, . As únicas diferenças notáveis residiam na estatura e a loquacidade: Pablo, o mais novo, era mais alto e quieto que Pedro. Este tossia frequentemente com a voz rouca, de fumante inveterado, e as mãos com que acenda um cigarro atrás do outro tremiam continuamente.
        -Quanto tempo, senhor Corso. Nos alegra sua visita.
        Procederam-no pela escada com solo de madeira gastados pelo uso. A porta roncou ao abrir-se, e o interruptor da luz acendeu a sala da oficina que presidia uma antiga impressora de livros junto de uma mesa de zinco cheia de ferramentas, capas sendo feitas ou já terminadas, guilhotinas de papel, peles tingidas, fracos de cola, ferros ornamentais e outros utensílhos do ofício. Havia livros por toda parte: grandes pilhas de encadernações em tafilete, chagrin ou pergaminhos, pacotes prontos para seu envio ou no meio do processo, sem tampas ou com suas tampas ainda rústicas. Sobre bancos e estantes, volumes antigos deteriorados pela poeira ou a humidade esperavam ser restaurados. Cheirava a papel, a cola de encadernação, a pele nova; Corso dilatou as narinas, satisfeito. Depois extraiu o livro da bolsa e pôs na mesa.
        -Quero saber o que me dizem disto.
        Não era a primeira vez. Pedro e Pablo Ceniza se achegaram lentamente, quase com cautela. Como o de costume, foi o irmão mais velho quem tomou primeiro a palavra:
        -As Nove Portas... –tocava o livro sem movê-lo de lugar; seus dedos ossudos, amarelos de nicotina, pareciam acariciar uma pele viva-. Bonito livro. E muito raro.
        Tinha os olhos cinza, de rato. Macacão cinza, cabelo cinza, olhos cinzas igual a seu apelido. Torcia a boca em um sorriso de ganância.
        -Já o viram antes?
        -Sim. Faz menos de um ano, quando Claymore nos encarregou de limpar vinte livros da biblioteca de don Gualterio Terra.
        -Em que estado chegou a suas mãos?
–Excelente. O senhor Terral sabia cuidar dos livros. Quase todos vieram bem, exceto um Teixeira que nos deu algum trabalho. O resto, incluindo este, só tive que limpá-los um pouco.
        -É falso –disse Corso diretamente-. Ou isso dizem.
        Os dois irmãos se olhavam.
        -Falso, falso... –murmurou o mais velho, mal humorado-. Todo o mundo fala de livros falsos com muita rapidez.
        -Muita rapidez –repetiu o outro, como um eco.
        -Até mesmo você, senhor Corso. E isso nos surpreende. Falsificar um livro não é rentável: mais esforço que benefício. Refiro-me à verdadeira falsificação, não ao fax para enganar os ignorantes sem juízo.
        Corso fez um gesto reclamando indulgência.
        -Não disse que todo o livro seja falso, senão que algo nele é. Certos exemplares, faltas de uma folha ou de várias, podem completar-se com cópias tiradas de outros que estão completos...
        -Naturalmente: é o Abc do ofício. Porém não dá no mesmo adicionar uma fotocópia, ou fax que completar um livro... –voltou-se até seu irmão, sem separar os olhos de Corso-. Diga a ele, Pablo.
        -Segundo todas as regras da arte –acrescentou o menor dos Ceniza.
        Esboçou Corso um sorriso cúmplice: um coelho compartindo metade da cenoura.
        -Poderá ser o caso deste exemplar.
        -E quem lhe disse?
        -Seu proprietário. Que não é, por certo, um ignorante sem juízo.
        Pedro Ceniza encolheu os estreitos ombros enquanto acendia um cigarro com o fogo do anterior. Ao aspirar a primeira tragada sacudiu a uma tosse seca; porém seguiu fumando, imperturbável.
        -Teve acesso a um exemplar autêntico, para compará-los?
        -Não, ainda que logo poderei fazer isso. Por isso peço antes sua opinião.
        -É um livro valioso, e nós não praticamos uma ciência exata –voltou-se outra vez ao irmão-. Verdade, Pablo?
        -Praticamos uma arte –insistiu o outro.
        -Escute. Seria muito incômodo decepcioná-lo, senhor Corso.
        -Não decepcionarão. Alguém como vocês, capazes de falsificar um Speculum Vitae a partir do único exemplar conhecido, e fazê-lo parecer autêntico em um dos melhore catálogos da Europa, sabe o que tem em mãos.
        Sorriam acidamente ao mesmo tempo, sincronizados. Si e Am, pensou Corso. Os gatos fraudulentos após receber uma carícia.
        -Nunca se provou nossa autoria –disse por fim Pedro Ceniza. Apertava as mãos, olhando o livro de relance.
        -Nunca –repetiu o irmão com um toque melancólico. Parecia que lamentaram não haver ido a prisão em troca do reconhecimento público.
        -É certo –admitiu Corso-. Tampouco houve provas no caso de Chaucer, supostamente encadernado em mosaico por Marius Michel, que figura no catálogo da coleção Manoukian. Nem com aquela Bíblia Poliglota do barão Bielke, cujas três folhas ausentes foram respostas por vocês de forma tão perfeita que nem sequer hoje os experts se atrevem a discutir sua autenticidade.
        Pedro Ceniza estendeu uma mão amarelada, de unhas muito largas.
        -Deveríamos refinar um par de pontos, senhor Corso. Uma coisa é falsificar livros com ânimo de lucro, e outra muito distinta trabalhar por amor ao ofício; criar pela satisfação que proporciona esse mesmo ato de criação ou, na maioria dos casos, de recreação... –o encadernador piscou um pouco antes de sorrir, maliciosos. Seus olhos cinzas brilharam ao pousa-los de novo em As Nove Portas-. Ainda que não lembro, e estou seguro de que meu irmão tampouco, haver tomado parte em nossos trabalhos que você acaba de qualificar de admiráveis.
        -Disse perfeitos.
        -Disse isso? Dá no mesmo –se levou o cigarro à boca, afundando as bochechas numa larga tragada-. Porém, seja quem seja o autor, ou autores, tenha a certeza de que o ato será assumido para ele, ou eles, um divertimento pessoal; uma satisfação moral que não seja paga com dinheiro...
        -Sine pecúnia-disse o irmão. Pedro Ceniza deixava escapar o fumo do cigarro pelo nariz e a boca entreaberta, invocador.
        -Tomemos como exemplo esse Speculum que A Sorbona adquiriu como autêntico. Só o papel, tipografia, impressão e encadernação tiveram que custas, sem dúvida, cinco vezes mais que o benefício obtido por quem você chama falsificadores. Há quem não compreende isso... Oque satisfaz mais um pintor que tenha o talento de Velázquez e seja capaz de emular sua obra? Ganhar dinheiro ou ver seu quadro no Prado, entre As Meninas e A Fragua de Vulcano?
Corso não preocupou-se em mostrar-se de acordo. Durante oito anos, o Speculum dos irmãos Ceniza havia figurado entre os mais preciosos volumes da universidade de Paris. O descobrimento da falsificação não se deveu a experts, senão ao azar. Por meio de intermediário de língua grande.
-A polícia ainda os incomoda?
-Apenas. Tenha em conta que o assunto da Sorbona estouro na França entre compradores e intermediários. O certo que circulava nosso nome, porém nunca se provou nada –Pedro Ceniza sorria torcidamente outra vez, lamentando essa ausência de provas-. Com a polícia mantemos boas relações; até vem nos consultar quando necessitam identificar livros roubados –disse a seu irmão com o cigarro esfumaçante-. Ninguém como Pablo na hora de apagar rastros de selos de bibliotecas, eliminar ex-libris ou marcas de procedência. As vezes o pedem que reconstrua o trabalho no sentido inverso. Já sabe: viva e deixe viver.
-Que opinam de As Nove Portas?
O mais velho dos irmãos olhou ao outro, logo o livro, e moveu a cabeça.
-Nada nos chamou a atenção ao ver ele. Papel e tinta são o que devem ser. Ainda que o olhar seja superficial, essas coisas não se notam.
-Nós as notamos –disse o outro precisamente.- E agora?
        Pedro Ceniza tragou o que restava de seu cigarro, reduzido a uma brasa minúscula que mantinha entre as unhas, deixando-o cair depois no chão, entre seus sapatos, onde acabou de consumir-se. O linóleo estava cheio de queimaduras como aquela.
        -Encadernação veneziana do XVII, em bom estado... –os irmãos se inclinavam sobre o livro, ainda que só o mais velho tocava as páginas com suas mãos frias e pálidas; pareciam um par de taxidermistas estudando o modo de empalar um cadáver-. A pele é marroquina escura, com detalhes dourados imitando decoração vegetal.
        -Algo sombrio pra Veneza –estimou Pablo Ceniza.
        O irmão mais velho mostrou seu acordo com um novo ataque de tosse.
        -O artista se conteve; sem dúvida a natureza do tema... –olhou a Corso. –Comprovou a essência das capas? As encadernações de XVI ou do XVII dão surpresas quando se trata de pele ou coro. A parte de dentro se fez com folhas soltas, montadas com cola e prensadas. As vezes usavam provas do mesmo livro, ou impressos mais antigos... Alguns resultados são hoje mais valiosos que os exemplares que encadernam –apontou a uns papéis sobre a mesa-. Aí tem um exemplo. Conta você, Pablo.
        -Bulas da Santa Cruzada, de 1483 –o irmão sorria, equívoco, como se em vez de papéis mortos fala-se de excitantes materiais pornográficos-... Nas capas de uns memoriais sem valor do século XVI.
        Pedro Ceniza seguia atento a As Nove Portas.
        -A encadernação parece em ordem –disse- Tudo encaixa. Curioso livro, verdade? Com seus cinco nervos de volta, sem título, e o misterioso pentáculo na capa... Torchia, Veneza 1666. Talvez ele mesmo o encadernou. Um belo trabalho.
        -Oque me diz do papel?
        -Aí reconheço a você, senhor Corso; boa pergunta –o encadernador passou a língua pelos lábios; parecia que tentava transmitir-lhes um pouco de calor. Logo o fez soar as folhas deixando-as correr com o polegar sobre o corte do livro, o ouvido atento, igual ao que fez Corso na casa de Varo Borja-. Excelente papel. Nada a ver com as celulosas de hoje em dia... Sabe a média de anos para um livros dos que se imprimem hoje?... Diga-lhe, Pablo.
        -Setenta anos –informou o outro com rancor como se o culpado fosse Corso-. Setenta miseráveis anos.
        O irmão mais velho rebuscava entre os utensílios da mesa. Por fim empunhou uma lenta especial de grande aumento e a aproximou do livro.
        -Dentro de um século –murmurou enquanto levantava uma folha e a estudava a trans luz, guiando um olho- quase tudo o que hoje está nas livrarias haverá desaparecido. Porém estes volumes, impressos faz duzentos ou quinhentos anos seguirão intactos... Teremos os livros, como o mundo, que merecemos... Não é verdade, Pablo?
        -Livros de merda sobre papel de merda. Pedro Ceniza movia a cabeça, aprovador, sem deixar de estudar o livro através da lenta.
        -Escutei. O papel de celulosa se volta amarelo e quebradiço como uma hóstia, e se fragmenta sem remédio. Envelhece e morre.
        -Esse não é o caso –apontou Corsou para o livro.
        O encadernador todavia observava as folhas a trans luz.
        -Papel de fio, como Deus manda. Bom papel feito com trapos, resistente ao tempo e a estupidez humana... Não, minto. É linho. Autêntico papel de linho –apartou o olho da lente e olhou a seu irmão-. Que raro, não se trata de papel veneziano. Grosso, esponjoso, fibroso... Espanhol?
        -Valenciano –disse o outro-. Linho de Játiva.
        -Isso é. Um dos melhores da Europa, na época. Pode que o impressor o fez importando-o... Aquele homem se propôs a fazer bem as coisas.
        -As fez com consciência –pontualizou Corso-. E o custou a vida.
        -Eram riscos do ofício –Pedro Ceniza aceitou o cigarro enrugado que Corso o oferecia, para acendê-lo no ato, tossindo com indiferença-... E quanto ao papel, você sabe que é difícil enganar com isso. A resma utilizada tinha que ser em branco, da mesma época e ainda assim encontraríamos diferenças: as folhas se voltam marrons, as tintas de oxidam, se alteram com o tempo... É claro que os agregados podem manchar, lava a área com agua de para escurece-los... Uma boa restauração, ou adição de folhas ausentes para que pareçam originais, deve deixar o livro uniforme. Os detalhes são básicos. Verdade, Pablo? Sempre os benditos detalhes.
        -Qual é o diagnóstico?
        -Salvando as distâncias entre o impossível, o provável e o convincente, temos estabelecido que a encadernação do livro pode ser de XVII... Isso não significa que as folhas que estão dentro correspondam a esta encadernação e não a outra; porém digo com certeza. E quanto ao papel, tem características similares a outras partidas cuja origem sim está provado; logo também parece de época.      
        -De acordo. Encadernação e papel são autênticos. Vejamos o texto e as ilustrações.
        -Isso é mais complexo. Desde o ponto de vista tipográfico há dois possíveis pontos de partida. Primeiro: o livro é autentico, porém seu proprietário, que segundo você tem motivos poderosos para sabe-lo, o nega. Possível, então, porém pouco provável. Vamos ao segundo ponto, o da falsidade, que nos permite calcular duas possibilidades. Primeira: todo o texto é falso, inventado, impresso sobre papel de época e aproveitando umas folhas velhas. Isso, ainda que possível, resulta improvável. Ou, para ser mais preciso, pouco convincente. O custo do livro seria desproporcional... Há uma segunda alternativa razoável para a falsificação: que se realizara em data muito próxima a primeira edição do livro.
        Falamos de uma reimpressão com modificações, camuflada como se fosse a primeira, data dez ou vinte anos depois desse 1666 que figura no frontispício... Porém, com que objeto?
        -Se tratava de um livro condenado –apontou Pablo Ceniza.
        -É possível –assentiu Corso-. Alguém com acesso ao material usado por Aristide Torchia, placas e tipos de impressão, pude imprimi-lo de novo...
        O mais velho dos irmãos havia pego um lápis e rabiscava a traseira de uma folha impressa.
        -Seria uma explicação. Porém as outras alternativas, ou hipóteses, parecem mais factíveis... Imagine, por exemplo, que a maior parte das páginas do livro são autenticas, porém se trata de um exemplar que falta folhas, com folhas arrancadas ou perdidas... E alguém há completado ditas faltas utilizando papel de época, uma boa técnica de impressão e muita paciência. Nesse caso teremos duas subpossibilidades: uma é que as páginas adicionadas se reproduzam de outro exemplar completo... A segunda hipótese é que, a falta de páginas originais para reproduzir ou copiar, o conteúdo daquelas foi inventado –nesse momento o encadernador mostrou a Corso o que havia estado desenhando-. Aí já teríamos um caso de autentica falsificação, segundo este esquema:


        Enquanto Corso e o irmão mais novo olhavam o papel, Pedro Ceniza folheou de novo As Nove Portas.
        -Me inclino a pensar –adicionou ao cabo de um momento, quando voltaram a prestar-lhe atenção- que se houve infiltração de algumas páginas está foi, ou coevo da impressão autentica, ou bem realizada agora, em nossos dias. Descartamos a época intermédia, porque reproduzir com tanta perfeição uma peça antiga não tem sido possível até muito pouco.
        Corso devolveu-o o esquema.
        -Imagine que se enfrentam essa possibilidade: um volume faltoso. E desejam completa-lo com técnicas modernas... Oque fariam?
        Os irmãos Ceniza suspiraram em uníssono, profunda e profissionalmente, lambendo-se com a perspectiva. Ambos tinham agora a mesma atenção em As Nove Portas.
        -Suponhamos –decidiu o mais velho- que temos este livro de 168 páginas e que falta a 100... A 100 e a 99, claro, pois se trata de uma folha com suas duas caras, ou páginas. E queremos completa-lo. O truque consiste em localizar um gêmeo.
        -Gêmeo?
        -Em argot do ofício –declarou Pablo Ceniza-: outro exemplar completo.
        -Oque tenha, pelo menos, intactas essas duas páginas que necessitamos copiar. Se é possível, convém comparar também o gêmeo com nosso exemplar faltoso, para ver se há distinções ou se os tipos estão mais gastados em um do que no outro... Você sabe de sobre: em uma época em que os tipos eram móveis e se desgastavam e alteravam com facilidade na impressão manual, o primeiro e o último exemplar de uma mesma tirada podiam ser muito diferentes, com letras torcidas, quebradas, tons de tinta e coisas assim. Esse estudo permitirá depois, na folha infiltrada, adicionar ou remover imperfeições que a igualem com o resto... Depois recorreríamos à reprodução fotomecânica: um fotolito plástico. E daí tiraríamos um polímero, ou um zinco.
        -Uma placa em relieve –disse Corso-. Feita de resina ou metal.
        -Isso mesmo. Por mais perfeita que seja a atual técnica de reprodução, nunca nos daria o relieve, a marca sobre o papel característica da antiga impressão com madeira ou tinta de chumbo. Assim devemos obter a página completa reproduzida em material moldável, resina ou metal, muito parecido com efeitos técnicos à página composta com tipos móveis de chumbo usados em 1666. Depois colocamos essa placa na impressora para executar a impressão manual como se faz a quatro séculos... É claro sobre papel de época, previa e posteriormente tratado com métodos de envelhecimento artificial... Também a tinta, cuja composição estudaremos a fundo, há que trata-la com agentes químicos para que se iguale com o resto de páginas. E já teremos perpetrado o delito.
        -Porém imagine que a folha original não existe. Que não há referencia do que copiar essas duas páginas que faltam.
        Os irmãos Ceniza sorriram outra vez, seguros de si.
        -Então –disse o mais velho- é quando o trabalho se torna mais atraente.
        -Documentação e imaginação –adicionou o outro.
        -E, é claro, audácia, senhor Corso. Suponha que Pablo e eu temos esse exemplar que falta de As Nove Portas. Nesse caso também disponhamos, nas restantes 166 páginas, de todo um catálogo de letras e símbolos utilizados pelo impressor. Assim tomaríamos amostras até obter um alfabeto inteiro. Desse alfabeto se obtêm uma reprodução sobre papel fotográfico, mais fácil de manejar, multiplicando cada letra pelas vezes necessárias para compor toda a página... O ideal, o toque artístico, consistiria em reproduzir os tipos de tinta fundidos a maneira dos antigos impressores... Porém isso, por desgraça, é muito complexo e caro. Assim nos ajustaríamos a técnicas atuais. Dividindo com uma lâmina as letras em tipos soltas, Pablo, que tem mais pulso para o necessário, comporia em uma planta, à mão, as duas páginas linha a linha, igual a um compositor de XVII. Daí obteríamos outra prova em papel para eliminar junturas de letras ou imperfeições, ou adicionar defeitos similares os que há em outras letras, linhas e páginas do texto original... Depois só resta tirar um negativo, e aí uma reprodução em relieve: a placa de imprimir.
        -E se as páginas que faltam correspondem a ilustrações?
        -Dá no mesmo. Se aderirmos à gravura original, o sistema de reprodução é, todavia mais fácil. Neste caso, o fato de que as impressões sejam xilográficas, com linhas mais claras que a gravura em cobre ou ponta seca, facilita a limpeza do trabalho.
        -Imagine que já não existe a gravura original.
        -Tampouco é problema. Se a conhecemos por referências, se imita. Se não, a inventamos. Com prévio estudo, claro, da técnica nas outras impressões conhecidas. Qualquer bom desenhista pode fazê-lo.
        -E a impressão?
        -Você sabe muito bem que a xilografia só é uma gravura em relieve: uma viga cortada no sentido da fibra, coberta com um fundo branco sobre o que se desenha a composição. Depois há que esculpi-lo, e nas crestas ou arestas se aplica a tinta para sua transferência ao papel... Quando reproduzimos xilografias existem duas possibilidades: uma é a cópia do desenho, esta vez melhor em resina. Ainda que a alternativa, se dispõe de um bom artista gravador, é fazer outra xilografia autentica, em madeira, com a mesma técnica que os originais da época, e aplicadas diretamente à impressão... Em meu caso, dispondo de um bom gravador como meu irmão, eu recorreria à impressão artesanal em madeira. Sempre que seja possível, a arte deve emular a arte.
        -E é mais limpo –destacou Pablo.
        Corso brindou seu sorriso cúmplice.
        -Como no Speculum de Sorbona.
        -Talvez. É possível que seu autor, ou autores, pensaram do mesmo modo... Não acha Pablo?
        -Sem dúvida –Corso notava o livro-. E agora, sentenciem.
        -Eu diria que é autentico –respondeu Pedro Ceniza sem vacilar-. Nós mesmos seríamos incapazes de conseguir algo tão perfeito. Frisa-se: qualidade de papel manchas de páginas, tons idênticos, alterações de tinta, tipografia... Não é impossível que já nele folhas infiltradas; porém considero improvável. Se de uma falsificação se trata, a única explicação é que também seja de época... Quantos exemplares se conhecem? Três? Suponho que considerou a possibilidade de que os três sejam falsos.
        -Considerei. O que me diz das xilografias?
        -Que são estranhas, desde já. Com todos esses símbolos... Porém também são de época. O nível de pressão das placas é idêntico. A tinta, os tons de papel... Talvez a chave não esteja em como e quando foram impressos, senão em o que há dentro. Lamentamos não chegar mais longe.
        -Equivoca-se –Corso se dispôs a fechar o livro-. Na verdade fomos muito longe.
        Pedro Ceniza o deteve com um gesto.
        -Todavia uma coisa... Ainda que imagino que terá reparado nele: as marcas de gravador. Corso o olhou, confuso.
        -Não sei a que se refere.
        -Às assinaturas microscópicas que há ao pé de cada ilustração. Mostre-as, Pablo.
        O irmão mais novo esfregou as mãos no macacão, para secar um suor impossível. Depois, aproximando-se de As Nove Portas, mostrou a Corso algumas páginas através da lupa.
        -Cada gravura –explicou- leva as abreviações habituais: Inv. por invenit, com a assinatura do artista original, e Sculp. Por sculpsit, o desenhista... Observe. Em sete das nove xilografias figura a abreviatura A. TORCH. Como sculp. e como inv. Está claro que o mesmo impressor desenhou e gravou sete lâminas. Porém as outras duas só aparece como sculp. Isso quer dizer que se limitou a grava-las. E que o criador do desenho original, o inv., foi outro: alguém que respondia às iniciais L.F.
        Pedro Ceniza, que havia seguido a explicação de seu irmão com breves movimentos de cabeça aprovando suas palavras, acendeu seu enésimo cigarro.
        -Não é mal, verdade? –se pôs a tossir entre o fumo, com um brilho maligno nos olhos de rato astuto, observando a expressão de Corso-. Ainda que o queimaram, esse impressor não estava sozinho.
        -Não –disse o irmão, soltando um riso lúgubre-. Alguém o ajudou a acender a fogueira debaixo de seus pés.
        Aquela mesma tarde, Corso recebeu a visita de Liana Taillefer. A viúva se apresentou em sua casa sem avisar, a essa hora incerta em que, junto à sacada com vista para o oeste, vestido de camisa de algodão descolorida e uma calça velha, o caçador de livros via arder em vermelhos e acres os telhados da cidade. Talvez não fora o momento idôneo, e muitas coisas das que ocorreram mais tarde se haveriam evitado, talvez, de apresentar-se ela a outra hora do dia. Porém isso não se saberá nunca. Os fatos que podemos estabelecer são estes: Corso estava na sacada, seu olhar começava a enfraquecer-se à medida que o conteúdo do vaso de gim descia de nível, nesse momento soou o timbre da porta, e Liana Taillefer –loira, altíssima, impressionante em uma capa de chuva inglesa sobre traje de alfaiate e meias pretas-, apareceu na porta. Prendia o cabelo em um coque abaixo do chapéu Borsalino cor tabaco e de abas que levava um pouco tortas, com uma bravura que caia muito bem; esse ar de mulher bonita segura de si, disposta que todos notem.
        -A que devo a honra? –perguntou Corso. Era uma frase estúpida, ainda que a essa hora e com a Bols pela metade tampouco era justo exigir brilhantes no diálogo. Liana Taillefer dava já uns passos pela habitação e se deteve na mesa de trabalho, onde estava o carpete do manuscrito Dumas junto ao computador e as caixas de disquetes.
        -Segue trabalhao nisso? –Claro.
        Separou os olhou de O vinho de Anjou para dar uma olhada ao redor, aos livros que cobriam as paredes e se amontoavam por todas as partes. Corso compreendeu que buscava fotos, lembranças, indícios que permitiram calibrar ao dono da casa. Arqueava uma sobrancelha, incomoda e arrogante, ao não conseguir seu objetivo. Por fim terminou parando no sabre da Velha Guarda.
        -Coleciona espadas?
        Inferência lógica, se chamava essa concussão. De tipo indutivo. Ao menos, pensou Corso com alívio, a inteligência de Liana Taillefer para normalizar situações embaraçosas não figurava a altura de sua aparência. Salvo que estivesse provocando-a. Assim sorriu um pouco, esquiado e cauteloso.
        -Coleciono esta. Se chama sabre.
        A mulher assentiu, inexpressiva. Impossível saber se simples ou boa atriz.
        -Herança de família?
        -Aquisição –mentiu Corso-. Pensei que estaria bonito na parede. Tantos livros se tornam monótonos.
        -Porque não tem quadros, nem fotos?
        -Não há ninguém a quem me apeteça recordar –pensou na foto com moldura de prata, o defunto Taillefer com avental cortando o porco-. Seu caso é diferente, naturalmente.
        Observou-o com firmeza, talvez para determinar o nível de insolência de suas palavras; havia um toque de aço em seus olhos azuis, tão gelados que se davam frios. Andou um pouco mais pela habitação parando ante alguns livros, a paisagem da sacada e, de novo, a mesa de trabalho. Deslizou um dedo com unha pintada em vermelho sangue sobre o carpete do manuscrito Dumas. Talvez esperava de Corso algum comentário, porém este não disse nada; se limitou a aguardar, paciente. Se ela pretendia algo, e saltava a vista que sim, a deixaria fazer seu próprio trabalho sujo. Não estava disposto a facilitar as coias:
        -Posso sentar-me?
        Aquela voz um pouco rouca. O eco de uma noite ruim, recordava Corso. Ele permaneceu de pé na metade do quarto, as mãos nos bolsos da calça, expectante. Liana Taillefer tirou o chapéu e o casaco, e após olhar em volta com um daqueles movimentos lentos e intermináveis, escolheu um velho sofá. Depois foi até ali para sentar-se lentamente –a saia era muito curta nesta posição-, cruzando as pernas com um efeito que qualquer, incluindo o caçador de livros com meia garrafa de gim no corpo, haveria definido como demolição.
        -Venho falar de negócios.
        Evidente. Aquele desenvolvimento não era desinteressado baixo nenhum conceito. Corso possuía tanta autoestima como o que mais, porém distante de ser um bobo.
        -Falemos –disse-. Jantou com Flavio La Ponte?
        Não houve reação. Durante uns segundos seguiu olhando-o imperturbável, com o mesmo ar de seguridade desdenhosa.
        -Ainda não –respondeu ao fim, sem alterar-se-. Primeiro desejava ver a ti.
        -Pois já está me vendo.
        Liana Taillefer se recostou um pouco mais no sofá. Uma de suas mãos descansava sobre uma fenda de couro no estofamento desbotado.
        -Você trabalha por dinheiro –disse.- De fato.
        -Se vende ao melhor licitante.
        -Às vezes –Corso mostrou uma presa no ângulo da boca; estava em seu território e podia banir o sorriso de simpático-. Pelo geral o que faço é me contratar. Como Humphrey Bogart nos filmes. Ou como as putas.
        Para uma viúva que fazia bordados no colégio quando menina, Liana Taillefer não pareceu escandalizada pela linguagem:
        -Quero oferecer-lhe trabalho.
        -Que bom. Todo mundo me oferece trabalho ultimamente,
        -Pagarei muito dinheiro.
        -Estupendo. Também todo mundo me paga muito dinheiro esses dias.
        Ela havia soltado o cabelo que projetavam pelo braço quebrado do sofá. O enrolava, distraída, em torno do dedo indicador.
        -O que seu amigo La Ponte cobra?
        -Flavio? Nada. Essa não serve para nada.
        -Porque trabalha para ele, então?
        -Você já disse. É meu amigo.
        Ouviu-a repetir a palavra, pensativa.
        -Soa estranho em você –disse; apontava um sorriso quase imperceptível, de curioso desdém-. Também têm amigas?
        Corso olhou suas pernas sem pressa, desde os tornozelos às covas. Com descaro.
        -Tenho lembranças. A sua pode ser-me útil esta noite.
        Suportou a grosseria estoicamente. Ou talvez, duvidou Corso, não captava a delicada referencia do assunto.
        -Diga um valor –propôs com frieza-. Quero o manuscrito de meu marido.
        O negócio tomava bom aspecto. Corso foi sentar-se em uma poltrona frente a Liana Taillefer: Ali a panorâmica de suas pernas em meias pretas era melhor: se havia tirados os sapatos e apoiava os pés descalços no tapete.
        -A outra vez me pareceu pouco interessada.
        -Pensei melhor. Esse manuscrito tem um caráter...
        -Sentimental? –disse Corso, zombando.
        -Algo assim –sua voz soava agora desafiante-. Porém não no sentido que supõe.
        -E o que está disposta a fazer por ele?
        -Já lhe disse. Lhe pago.
        Corso brandiu um sorriso petulante.
        -Me ofende. Eu sou um profissional.
        -Você é um mercenário profissional, e esses mudam de time. Eu também leio livros.
        -Tenho o dinheiro que preciso.
        -Agora não falo de dinheiro.
        Se havia recostado no sofá, e um de seus pés descalços acariciava o peito do pé do outro. Corso adivinhou os dedos com unhas pintadas de vermelho debaixo das meias escuras. Ao mover-se, a saia retrocedeu insinuando um pouco de carne branca ao fundo, atrás das ligas pretas, ali onde todos os enigmas se reduziam a um, velho como o Tempo. O caçador de livros estendeu com esforço o olhar. Os olhos azuis continuavam fixos nele.
        Tirou os óculos antes de colocar-se de pé, aproximando-se do sofá. A mulher seguiu seu movimento com o olhar, impassível; mesmo quando parou frente a ela, tão perto que seus pescoços se tocavam. Então Liana Taillefer estendeu uma mão e pôs os dedos de unhas em vermelho exatamente sobre a sua calça. Sorria outra vez de modo quase imperceptível, desdenhosa e segura de si, quando por fim Corso se inclinou sobre ela e lhe subiu a saia até a cintura.
        Foi um mútuo assalto, mais que um intercâmbio. Um acerto de contas sobre o sofá: luta bruta e de adulto a adulto, com os gemidos apropriados no momento oportuno, algumas precauções entre dentes e as unhas da mulher cravadas sem piedade nos rins de Corso. Ocorreu assim, em um palmo de terreno, sem soltar-se a roupa, a saia dela sobre os quadris largos e fortes que ele sujeitava com as mãos, cravando os clipes da liga. Nem sequer chegou a ver seus peitos, ainda que um par de vezes pode conectar-se a eles; carne densa, quente e abundante debaixo do sutiã, a blusa de seda e a jaqueta do traje que, no calor da batalha, Liana Taillefer não tive tempo de remover. E agora estavam ali os dois, todavia emaranhados um no outro entre a confusão de suas roupas amassadas, sem alento, igual lutadores exaustos. E Corso, perguntando-se com ia a safar-se daquilo.
        -Quem é Rochefor? –perguntou, disposto a precipitar a crise.
        Liana Taillefer o olhou dez centímetros de distancia. A luz poente lhe iluminava o rosto em tons avermelhados; haviam saltado os grampos, e seu cabelo loiro cobria em desordem o coro do sofá. Pela primeira vez parecia relaxada.
        -Ninguém que importe –disse-, agora que recupero o manuscrito.
        Corso beijou o decote desordenado da mulher, despedindo-se deste, e seu conteúdo. Pressentia que ia demorar em beijá-lo de novo.
        -Que manuscrito? –disse, por dizer algo, e ao momento comprovou que ela endureceu o olhar; o corpo se pôs rígido debaixo do seu.
        -O vinho de Anjou –pela primeira vez sua voz encerrava um ponte de ansiedade-... Vai me devolve-lo, não?
        Corso não gostou como aquilo soava. Recordava vagamente de haver improvisado a escaramuça.
        -Não disse nada disso.
        -Pensei...
        -Pensou mal.
        O aço brilhou com um relâmpago de cólera. Se erguia, furiosa, rejeitando-o com um movimento brusco dos quadris,
        -Canalha!
        Corso, que estava a ponto de começar a rir esquivando a situação com um par de piadas cínicas, se sentiu empurrado por trás com violência, até o chão de onde caiu de joelhos. Enquanto se vestia, colocando o cinto, comprovou que Liana Taillefer se colocava em pé, pálida e terrível, e sem preocupar-se das roupas em desordem, ainda com as coxas nuas, o sentou um tapa tão forte que seu tímpano esquerdo ressoou como um tambor
        -Miserável!
        Cambaleou o caçador de livros; o golpe não era para menos. Atordoado, olhou ao redor como o boxeado em busca de uma referencia para não cair no chão, na lona. Liana Taillefer cruzou seu campo visual sem que pudesse prestar-lhe muita atenção: o ouvido doía horrores. Olhava estupidamente o sabre de Waterloo quando ouviu o ruído de vídeo ao romper-se. Então ela apareceu de novo em contraluz vermelho da janela. Se havia baixado a saia, levava o carpete do manuscrito em uma mão, e na outra o gargalo de garrafa quebrada. A aresta de vidro se dirigia à garganta de Corso.
        Levantou um braço, por simples reflexo, enquanto dava um passo para trás. O perigo lhe devolvia lucidez e adrenalina a jatos, assim apartou a mão armada da mulher e a deu um soco que a deixou sem alento, parando-a. A seguinte cena foi algo mais suave: Corso coletava do chão o manuscrito e a garrafa quebrada, e Liana Taillefer estava outra vez sentada no sofá, agora com cabelo bagunçado sobre a cara, as mãos no pescoço dolorido, respirando com dificuldade entre soluços de ira.
        -O matarão por isto, Corso –ouvia-a dizer por fim. O sol se havia posto definitivamente do outro lado da cidade, e os ângulos da casa se enchiam de sombras. Envergonhado, acendeu a luz e entregou à mulher o chapéu e o casaco antes de ligar o telefone para pedir um táxi. Todo o tempo evitou olha-la nos olhos. Depois, quando olhou desvanecia seus passos na escada, esteve um tempo imóvel na janela, observando as sombras dos telhados recortarem-se na claridade da luz que acendia.
        “O matarão por isto, Corso.”
        Serviu-se um largo copo de gim. Não podia separar de sua cabeça a expressão de Liana Taillefer quando se soube enganada. Olhos mortais como um punhal, ricto de fúria vingativa. E não brincava; havia querido mata-lo de verdade. Uma vez mais as lembranças despertaram lentamente, invadindo pouco a pouco, ainda que esta vez não foi preciso, para revive-los, nenhum esforço da memória. Era uma imagem nítida como o lugar exato do que aconteceu. Sobre a mesa de trabalho estava a edição fax de Os três mosqueteiros. Abriu-a em busca da cena: página 129. Ali, entre peças de mobília e desordem, saltando com um punhal em mãos como um diabo vingador, Milady se inclina sobre d’Artagnan que retrocede aterrado, na camisa, mantendo a distancia com a ponta de sua espada.

...Mantendo a distancia com a ponta de sua espada.
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