sábado, 27 de maio de 2017

Primeira Entrada - A Garota Que Amava Tom Gordon II

Primeira Entrada

    MÃE E PETE ficaram em silêncio enquanto pegavam suas mochilas e a cesta com a coleção de plantas de vime de dentro do porta-malas da van; Pete até ajudou Trisha arrumar sua mochila nas costas, estreitando uma das alças, e ela teve um momento tolo de pensar que agora as coisas se acertariam.
    "Crianças, pegaram seus ponchos?" Mãe perguntou, olhando para o céu. Ainda havia azul lá, mas as nuvens estavam engrossando no oeste. Muito provavelmente iria chover, mas provavelmente não cedo o suficiente para que Pete reclamasse por estar encharcado.
    "Peguei o meu, Mãe!" Trisha respondeu na sua voz oh-meu-Deus-é-um-jogo-de-panelas.
    Pete resmungou algo que pode ter sido um sim.
    "Comida?"
    Afirmativo por Trisha; outro resmungo de Pete.
    "Ótimo, porque eu não vou dividir o meu." Ela trancou a Caravan, e então os guiou através do pátio sujo em direção à placa marcado TRILHA OESTE, com uma flecha embaixo. Devia ter uma dúzia de outros carros no lote, todos, exceto o deles, com placas de fora do estado.

    "Repelente?" Mãe perguntou enquanto ele entravam em um outro caminho que dava à trilha. "Trish?"
    "Peguei!" ela respondeu alegre, não inteiramente positiva que tinha mesmo pegado, mas não querendo parar para que sua mãe não pudesse investigar. Aquilo iria atiçar Pete de novo, com certeza. Se eles continuassem andando, no entanto, ele poderia ver algo que o interessaria, ou até mesmo, o distrairia. Um guaxinim. Talvez um veado. Um dinossauro seria interessante. Trisha riu.
    "Oque é tão engraçado?" Mãe perguntou
    'Eu pensar que é," Trisha respondeu, e Quilla franziu a testa "eu pensar" era um Larry McFarlandismo. Bem, deixe que ela estranhe, Trisha pensou. Deixe que estranho quanto quiser. Estou com ela, e eu não estou reclamando por isso como o velho mal-humorado lá, mas ele ainda é meu Pai e eu ainda o amo.
    Trisha tocou a borda do seu boné, como se para provar.
    "Okay, crianças, vamos lá," Quilla disse. 'E mantenham os olhos abertos.
    "Eu odeio isso," Pete falou quase resmugando - foi a coisa mais articulada que ele disse desde que sairam da van, e Trisha pensou: Por favor Deus, envie algo. Um veado ou um dinossauro ou um UFO. Por que se Você não mandar, eles vão brigar de novo.
    Deus não mandou nada além de alguns mosquitos soldadinhos que, sem dúvidas, logo estariam de volta reportando ao exército principal de mosquitos que carne fresca estava na estrada, e até que passassem uma placa que lia NO. ESTAÇÃO CONWAY 5.5 mi., os dois estariam se atacando completamente novamente, ignorando a floresta, ignorando ela, ignorando tudo menos um ao outro. Blablablablabla. Era, Trisha pensou, um tipo doente de amasso.
    Uma pena, também, por que ele estavam perdendo coisas que eram legais, de verdade. A resina, o cheiro doce dos pinheiros, por exemplo, e o jeito que as nuvens pareciam estar tão próximas - menos como nuvens e mais como sujeiras de fumaça meio-cinzas. Ela pensava que você  teria que ser um adulto para chamar algo de tão tedioso quanto andar desordenamente, mas não era de todo mal, na verdade. Ela não sabia se toda a Trilha Apalaches era tão bem mantida quanto essa -provavelmente, não- mas se fosse, ela pensou que poderia entender o porque das pessoas que não tinham nada melhor pra fazer, decidissem andar milhares de quilômetros de trilha. Trisha pensava  ser como andar numa vasta, ventosa avenida pela floresta. Não era pavimentada, claro, e corria estavelmente para cima, mas era fácil subir. Tinha até uma cabaninha com uma bomba dentro e uma placa que lia: ÁGUA OK PARA BEBER. POR FAVOR, ENCHA A JARRA PRINCIPAL PARA A PRÓXIMA PESSOA.
Ela tinha uma garrafa de água na mochila - uma grande com um bico no topo - mas, de repente tudo que Trisha queria no mundo era encher a bomba na cabaninha e tomar a água, fria e fresca, da boca enferrujada. Ela beberia e fingiria ser Bilbo Baggins, no seu retorno às Misty Mountains.
    "Mãe?" ela perguntou por trás deles. "Poderia parar um pouquinho para-"
    "Fazer amigos é um trabalho, Peter," sua mãe estava dizendo. Ela não olhou para Trisha. "Você não pode simplesmente ficar lá e esperar que as crianças venham até você."
    "Mãe? Pete? Poderíamos parar um pouqui-"
    "Você não entende," ele disse nervoso. "Você não faz ideia, eu não sei como as coisas eram quando você estava na escola, mas é diferente agora."
    "Pete? Mãe? Mamãe? Tem uma bomba-" Na verdade tinha uma bomba; essa era a forma gramaticamente correta de se falar, por que a bomba já estava para trás deles, e ficando cada vez mais distante.
    "Eu não aceito isso," Mãe disse bruscamente, toda séria, e Trisha pensou: Não é de surpreender que ela deixa ele louco. Então, com ressentimento: Eles nem sabem que estou aqui.  A Garota Invisível, sou eu. Poderia ter ficado em casa. Um mosquito businou em seu ouvido e ela bateu nele irritadamente.
    Eles chegaram em uma trilha que dava para três caminhos. O caminho principal - não tão vasto quanto uma avenida agora, mas ainda assim nada mal - ia para a esquerda, marcado com um sinal NO. CONWAY 5.2. O outro caminho, menor e mais coberto, lia KEZAR NOTCH 10.
    "Gente, eu tenho que fazer xixi," disse A Garota Invisível, e é claro que nenhum deles notaram; eles apenas foram para o caminho que ia para Norte Conway, andando lado a lado como namorados e olhando para o rosto um do outro como namorado e discutindo como os inimigos mais amargos.     Deveríamos ter ficado em casa, Trisha pensou. Eles poderiam ter feito isso em casa, e eu poderia ter lido um livro. O Hobbit de novo, talvez - uma estória sobre garotos que gostam de andar na floresta.
"Quem se importa, estou indo," ela disse amuada, e andou num pequeno caminho marcado KEZAR NOTCH. Aqui, os pinheiros que ficaram modestamente para trás da estrada principal, se multiplicaram, altos com seus galhos azulados, e tinha arbustos em seus pés - inúmeros. Ela procurou pelas folhas brilhantes que significavam hera venenosa, carvalho venenoso, ou sumagre venenoso, e não viu nenhum graças a Deus pelos pequenos favores. Sua mãe havia mostrado fotos dessas folhas e a ensinou a identificá-las dois anos atrás, quando a vida era mais feliz e mais simples. Naqueles dias, Trisha foi passear na floresta com a sua mãe um pouco. (A reclamação mais amarga que Pete tinha sobre a viagem para o Plant-A-Torium era que a mãe queria ir lá. A verdade óbvia disso parecia cegá-lo para o quão egoísta ele soava, falando disso o dia inteiro.)
    Em uma de suas caminhadas, Mãe também a ensinou sobre como as meninas faziam xixi na floresta. Ela começou dizendo, "A coisa mais importante - talvez a única coisa importante - é não fazer xixi num caminho que tenha hera venenosa. Agora olhe. Olha eu e faça exatamente igual."
    Trisha agora olhou para os dois lados, não viu nada, e decidiu que sairia da trilha de qualquer jeito. O caminho para Kezar Notch não parecia muito usado - só um pouco mais que um beco comparado ao vasto caminho da trilha principal - mas ela ainda não queria se agachar bem no meio do caminho. Parece indecoroso.
    Ela saiu fora do caminho em direção à Norte Conway, e ela ainda podia ouví-los discutindo. Mais tarde, depois de já estar aliviada e perdida e tantando não acreditar que morreria na floresta, Trisha lembraria da última frase que ela ouviu; a voz magoada e indignada de seu irmão: -não sei porque temos que pagar pelo que vocês fizeram errado!
    Ela andou meia dúzia de passos em direção ao som da voz dele, pisando cuidadosamente em volta de um amontoada de amoreiras, apesar de estar usando calça jeans ao invés de shorts. Ela pausou, olhou para trás, e se deu conta de que ainda podia ver o caminho de Kezar Notch o que significava que qualquer um que passasse, poderia vê-la, agachada e fazendo xixi com uma mochilinha nas costas e um boné dos Red Sox na cabeça. EN-VER-GO-NHAN-TE, como Pepsi diria (Quilla Anderson já disse uma vez que a foto de Penelope Robichaud deveria estar ao lado da palavra vulgar no dicionário).
    Trisha foi até um declive suave, seu tênis desligando um pouco em um carpete de folhas mortas do ano passado. Bom. Da outra direção, logo a seguir pela floresta, ela ouviu a voz de um homem e a resposta sorridente de uma garota- trilhadores na trilha principal, e não longe, pelo som. Enquanto Trisha abria seu jeans, a ocorreu que se sua mãe e seu irmão pausassem sua discussão tão interessante, olhassem para trás para ver com a irmãzinha estava, e vissem um homem estranho e uma mulher ao invés dela, eles poderiam talvez ficar preocupados.
    Bom! Dá algo diferente para eles pensarem por alguns minutos. Algo além deles mesmos.
O truque, sua mãe havia dito naquele dia melhor na floresta dois anos atrás, não era fazer xixi fora - garotas poderiam fazer isso tão bem quanto os garotos- mas fazer sem molhar a roupa.
    Trisha segurou no galho de um pinheiro próximo, dobrou os joelhos e então segurou entre as pernas com a sua mão livre sua calça e a roupa íntima para frente e fora da linha de fogo. Por um momento nada aconteceu - que típico - e Trisha suspirou. Um mosquito businou sedente por sangue em volta de seu ouvido esquerdo e ela não tinha mãe livre para bater nele.
    "Oh Jogo de Panelas!" disse com raiva, mas foi engraçado, realmente deliciosamente estúpido e engraçado, e ela começou a rir. Assim que ela começou a rir, o xixi saiu. Quando tinha terminado, procurou duvidosamente em volta por algo que pudesse usar para se enxugar e decidiu - mais uma vez, era a frase do seu pai - não tentar a sorte. Ela balançou sua traseira (como se isso fosse ajudar) e então subiu a calça. Quando o mosquito businou no lado do seu rosto novamente, ela bateu bruscamente e olhou com satisfação o pequeno corpo caído na palma de sua mão. "Pensou que eu estava desarmada, parceiro, não pensou?" disse.
    Trisha virou-se para o declive, e então virou-se novamente quando a pior ideia de sua vida veio à ela. Essa ideia era ir para frente ao invés de voltar para a trilha de Kezar Notch. Os caminhos faziam um Y; ela poderia simplesmente andar através da lacuna e depois se juntar novamente à trilha principal. Facinho. Não tinha nem chances de se perder, por que ela podia ouvir as vozes dos outros trilhadores tão claramente. Não tinha, realmente, nenhuma chance de se perder.

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